sábado, 21 de janeiro de 2012



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

'Assuntos de Cama e outras Desordens'

Queria poder fazer um voto de silêncio. Estou farta das palavras, das minhas e das dos outros. Não vou mais falar do tempo, nem desejar bom ano, nem bom Natal, e Carnaval só se for o que é a minha vida. Calem-se todos! Por favor não desgastem as palavras, que juntas podem fazer amar e mais juntas ainda podem fazer odiar. São poderosas e inversamente proporcionais às conclusões. São enfadonhas se acreditar que tudo o que sei é tudo o que preciso, mas vejo afinal que o que sei é nada...são palavras. Sei apenas que preciso de silêncio.
A palavra morre assim que é pronunciada. Não vale para as taxas moderadoras nem para os gastos de saliva nem dura para os portes de envio.

Sem palavras aprendi a suportar ausências, a aceitar as partidas. aprendi a ver nas despedidas novos retornos, a abraçar os meus medos, a andar de mãos dadas com os meus fantasmas... e... de nada me servem as palavras. O precioso silêncio...ahhhhh...o precioso silêncio. só nele me encontro. Em tempo de crise há-que falar só o necessário. e o necessário é sentir...o que se diz...e só dizer o que se sente. Mas para quê tanto falar se ninguém se ouve? afinal fala-se para quem? para o ouvinte ou para o orador? são diálogos feitos monólogos. Já não ouço nada...fartei-me! Já não digo nada. As palavras nada mudam. nem o tempo muda nada. apenas me coloca mais distante do agora, do ontem, do passado. coloca-me num infinito horizonte que por vezes me surge, para logo desaparecer. equilibra para em seguida desequilibrar. mas não muda nada. nem os assuntos nem os pensares nem os sentires nem as desordens nem as ordens. A memória do que se sentiu, ficou naquele tempo, mas regressa sempre com a mesma intensidade. Nada muda. Usam-se as palavras desejando marcar diferenças, anunciar ideologias, tentando convencer o medo a desaparecer, tentando explicar o inexplicável. a compreender. Mas e...há afinal mais entendimento pela palavra? não me parece. a mim não me resolve. Tudo cá dentro está caótico...e aqui as palavras não chegam. nem as quero! quero aceitar as injecções de consequência que me irei dar pelas mãos das decisões tomadas. quero aceitar o medo a sentir, o meu corpo em conflito. A paz que tive...está lá, onde tempo a deixou...e nada mudou. regressa sempre da mesma forma, noutro tempo, noutro outro, mas é sempre a mesma. Tudo regressa sempre ao corpo onde se construiu. mas são sentires...não são palavras.
Hoje em leituras de 'assuntos de cama e outras desordens' vi a intimidade que é minha. ficou lá. presa numa memória que o tempo tenta, sem sucesso, apagar e que as palavras me tentam convencer ser passado. mas tendo sido construida em mim É urgentemente minha. e fala-se fala-se .... fala-se demasiado! Para quê? quando podia simplesmente fechar os olhos e ver as cores das pessoas que se amontoavam pela rua. cheirar o alcatrão quente rançoso desta cidade. sem palavras...fechar os olhos e só sentir.

Está decidido! vou fazer um voto de silêncio.