terça-feira, 20 de setembro de 2011

o outro lado

Há sempre um outro lado. De tudo. para tudo há o outro lado.

No outro dia vi um filme que falava sobre os mundos imaginárioas das pessoas e de como isso as libertava. Em forma de um conto fabulesco, as pessoas atravessavam um espelho e, sem saberem, no outro lado encontravam o mundo das suas imaginações. encontravam os seus recantos mais íntimos, mais assustadores e mais encantados.

Conhecer-se pode ser assustador, mas a coragem que esse acto implica oferece uma liberdade sem precedentes.

Penetrei no imaginário daquelas personagens e vi-me em cada uma delas.
À velocidade da luz desejei entrar por aquele espelho e imaginei como seria o meu mundo do outro lado de mim: tudo que lá estivesses teria a beleza de todos os mundos e estaría banhado por uma música silenciosa. Uma música que só se ouviría com o coração e sería a música mais linda que alguma vez tivesse ouvido! tudo era Natureza, inclusivé eu e todos os que lá estivessem. todos se olhavam nos olhos porque não existiría culpa, vergonha, inveja ou medo. todos se tocaríam ao som do amor porque se sabia aceitar a dor. todos seríamos amor afinal. e saberíamos o que fazer com isso.
Os bosques ofereciam-nos as frutas mais deliciosas e as árvores sorriam, porque recebiam o nosso abraço. As águas eram limpas, cheias de libelinhas de cores nunca vistas. tudo era morninho, não havia frio nem calor. os animais seríamos todos e saberíamos o que precisamos de saber: nem mais, nem menos.
Cheirava a rosmaninho a rosas e a mel.
Havia cavalos azuis e animais centenários. havia oxigenio em todo o lado e poderíamos respirar dentro de água. poderíamos voar e caminhar num caminho de nuvens roxas e tocar o arco-íris.
Lá, do outro lado do espelho, seria tudo o que quisesse ser. e melhor: sabería tudo o que queira ser e acreditava poder sê-lo sem nunca ser tarde nem cedo para tal.
Todo o tempo era o certo. todo o momento era o agora que se quisesse viver. e melhor: viver-se-ía! Todo o espaço sería o de cada um. e melhor: faría parte dele por inteiro.
O passado seria uma anacronia e o futuro uma utopia. só o momento existia!
Estaría inteira. completa. não sentiría falta de nada porque aceitava o que lá estivesse para mim. Não havería o desejo infundado porque tería tudo o que desejasse...tería-me a mim!
Não havería frustação, porque se desconhecia esse sentimento e a perda afinal era um ganho.
E os pensamentos...esses...seríam apenas prolongamentos do melhor da alma e seríam sempre bem vindos. seríam sempre bonitos e limpos e encaminharíam as acções igualmente bonitas e limpas.
As lágrimas seriam fragmentos de sorrisos, porque se sabia crecher com elas. e sabiam bem, sabiam a algodão doce. e os sorrisos, esses, seriam sempre genuínos, seriam sempre os de criança.
Tudo sería uma tela em branco. uma tela por pintar. tudo estraría por pintar. sempre.
o fim era algo desconhecido. não era preciso. não existia.

Fecho os olhos e desejo-me lá, no outro lado do espelho, no outro lado de mim. e quero-me lá.
vou pegar em mim ao colo, dar-me um abraço, e voar para lá e assim ficar em estado de sonho. aceitar os meus arredores mais repulsivos e dar-me um beijinho.
Hei-de sonhar...sonhar...até acordar...e mesmo acordada sonhar mais.
o sonho apetece mais e vou por lá ficar hoje...no outro lado.

estou codificada

Não sei onde me quero. sinto a alma arranhada. Estou codificada e esqueci-me da palavra-chave.
Precisava de ausentar-me de mim, mas já não posso nem quero. mas sei que precisava. Tem que haver uma maneira de desligar isto tudo aqui na cabeça. está tudo numa linguagem que não domino. não entendo. não consigo ler-me e sinto-me tão cansada.
Desejava só deixar-me ir num abraço verdadeiro. era mesmo só isso, um abraço!
Tento seguir viagem, mas os dias vão passando e simplesmente não consigo....estou tão cansada dos regressos e das despedidas. de carregar o carro desta bagagem feita de sonhos. De me mentir o quanto aprecio a vista. do quanto adoro conduzir. quando na verdade o que mais queria era ser conduzida.

Volto a fazer as malas, coloco mais um sonho na bagagem, abro o vidro e canto com o vento a canção do 'até breve'. e triste, porque não queria despedir-me das minhas pessoas. queria-as sempre comigo. queria-me a mim sempre comigo.

preciso tanto de mim! e não sei onde me quero.

domingo, 18 de setembro de 2011

Marta a pintar o Mundo ou o Mundo a pintar a Marta?

"olha Marta, esta és tu a pintar o Mundo!"
As lágrimas ficaram retidas.contidas. muito pouco faltou para as deixar cair. mas também sempre fui uma chora-fácil. caramba se até a ver desenhos animados choro, como não chorar da primeira vez que sou retratada...
já fiz muitos retratos meus e dos demais. já vi muitas pessoas. mas sentir-me vista, assim, confesso que foi algo mágico.
é também nos olhos dos que me vêem que sou e existo. é também nos olhos dos outros que me vejo. é bom ser vista. na verdade cada um vê o que quer ver, lêr-me-á como entender. e eu dar-me-ei como melhor souber. mostrar-me-ei como sou no momento. não sou muito nem pouco, não sou mais nem menos, não sou grande nem pequena, não sou e sou ao mesmo tempo.
Tempos houve em que me escondia numa mentira em que acreditava, que não sabia. hoje as verdades em que acredito não são as absolutas. de tudo podemos fazer verdade, menos torná-las absolutas. uma verdade tornada absoluta é uma possibilidade que se fecha, é a anulação da descoberta, é um fim! e fins não quero mais do que o da própria vida, o único que é verdade. tudo o resto é para mim um caminho, um processo, uma busca, possibilidade...sem destino nem fim! e isso é tãoooo booom!!!
Não...não quero fins, não quero verdades absolutas, não quero deixar de caminhar, de buscar e acreditar. é isso que me dá vida, é isso que me dá verdade. Essa sou eu a pintar o mundo!
o meu maior medo é do dia em que deixe de buscar verdades, de perguntar, de criticar, de questrionar. se o dia chegar em que acredite que encontrei A verdade será porque já não estou. nesse dia deixarei de ter perguntas...apenas respirarei. esse dia seria a minha mentira.
Até lá, estarei, serei, pintarei o Mundo...ou antes...deixarei que o Mundo me pinte a mim!

sábado, 17 de setembro de 2011

Preciso sair daqui! Não consigo respirar!!! Como foi que te mandei embora se o que mais quero é-que me leves a um sitio bonito. Tira-me de mim!!!


Abri a porta do carro: tenho que sair daqui! Mas fechei-a e comecei a caminhar. Pelo caminho vi que de onde eu queria sair já não me era possível. já não consigo sair de mim. Levo-me sempre comigo.
E lá fomos...andámos, andámos, andámos...só parámos na minha infancia. de frente sentei-me numa escada. estava gente em casa. vista assim de fora pareceu-me tão pequenina, ou talvez sejam todos estes eu's que ocupam demasiado espaço.
Não sei porque fui ali parar. queria uma resposta. ou pelo menos uma pergunta que me ajude a ver-me. e lá estava eu na minha primeira bicicleta, a azul.
No regresso cruzei-me com uma criança da minha infancia, já grande agora. Esbocei um sorriso-porque os rostos não se esquecem-seguido de um olhar desviado, envergonhado, culpado...como só o olhar da gente grande.
Desejei-me criança, ali dentro das casotas do cães que já não estão, e a jogar baseball inventado num campo que já não é, e naquela rua cheia de crianças que já não são. sujar-me sem me preocupar. Lá, não sabia o peso da preocupação...lá, não me comia por dentro este virus chamado Marta.
Agora, neste aqui, desejo uma tela para pintar, desejo cor de manga. Lembro dos sorrisos e queira saber chorar.
que saudades do rir da criança

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Inquieta.
Não gosto de sentir os meus mundos baralhados.
Começa por não conseguir ver o que se passa no mundinho de dentro. depois por não querer ver o que está à vista. Tento tapar com a cortina das palavras que se entendem bem, que ficam bem.
e como detesto o politicamente correcto! e
Por fim já estou com o mundo de fora um caos. Chegam coisas novas por fora que não sei se quero receber, se quero entender, se quero sentir. e cá dentro o ruído já é tanto porque tenho medo das feridas. ainda mais das cicratizes.
Quero-me nesta Primavera existencial, mas as minhas memórias não me deixam agarrar o momento e sinto os dias as ficarem mais curtos. sinto a chegada do Inverno interior.
Queria tanto entender. Saber ler as chegadas. Agradecer as partidas. Suportar as despedidas.

e...tenho medos.

Cansada das pessoas intermitentes, tento acreditar que ficarão. que eu as deixo ficar.
O que mais gosto da vida é a libertade, e as possibilidades que me dá. Adoro o que está para vir. acreditar na mudança. Mas tiro a cortina e vejo que na verdade o que eu queria mesmo era uma mudança que não mudasse. uma mudança com verdade.
uma mudança que ficasse sempre assim...sem mudar!

sábado, 10 de setembro de 2011

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

queria . . .

queria-me ali, deitada a olhar a Lua a crecher
queria descalçar-me e sentir a pedra quente por baixo
queria despir-me de mim e ser vista assim
queria apanhar as 4 estrelas que cairam e levá-las comigo nos meus desejos
queria ouvir o que me diz o vento
queria cantar com a voz da vida
queria o sorriso recebido, assim retribuido
queria um sonho bonito esta noite
queria deixar-me só ser
queria acender a alma como descobri
queria acreditar, sempre
queria libertar-me do momento seguinte
queria saber ler o que ficou escrito cá dentro
queria só um pouco mais daquele pedaço que julgava perdido
queria os meus cabelos enrrolados nas mãos de quem me vê sem ter que me apresentar
queria agarrar aquele cheiro que está em tudo e em nada
queria encontrar-me naqueles arredores que adoro
queria saber abrir as caixinhas dos meus recantos escuros para que entre o Sol
queria-me no calor que sei receber, e ficar assim...morninha
queria um vida simples de tanto sentir
queria-me naquela história de encantar
queria devolver o olhar de quem me lê
Deus meu como eu queria saber parar o Tempo a ficar ali...deitada naquele chão de pedra quente...e deixar-me ir com as estrelas que correm...sem saber onde vão




quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Encontrei um pedaço de Marta que julgava desaparecido! Estava aí, onde me vês. e descobri-me nesse pedaço encantado pela sabedoria do receber. E agora aqui a sentir este vento da planície abro os braços e sussurro baixinho para que ninguém ouça: bem-vindo!
Era aí, onde me buscas, que gostava de estar.
Não ouviste o tempo a parar? ficou ali...assim...congelado. Ainda lá estou, nesse tempo, que afinal não parou e é agora uma presença feita de ausência.

Sei que me procuras num sitio cheio da beleza do mundo, com cheiro a menjericão e de pinheiros lavados por esta chuva de Verão. e recebo 33 abraços sentidos de quase Outono. e é bom.
Os teus olhos contam-me histórias que de ti nunca tinha ouvido. Tens recantos que adoro. Arredores limpos: como é possível ainda haver pureza? Há almas assim. E quando as encontro quero-as em mim. para mim.

Não imaginas a vida que me deste!

Pertences a uma espécie em vias de extinção. Uma raça de seres que sentem e procuram, dentro de si, o sentido desta treta toda, a que chamamos existência.

não te vás embora. quero-te nos meus mundos!

É novo este sentir e não o entendo. Faz barulho. Ruídos estranhos, misteriosos. Estou curiosa sem saber o que procuro. Porque é mesmo só isso. O novo. como quando vi pirilampos pela primeira vez.

E grito muda porque já tenho saudades do que nem sei. Não me ouves?
Gosto desse mimo que não sei receber. Gosto deste rir que me faz doer a barriga. Gosto desta nudez desavergonhada. Gosto desta conversa interminavél. Gosto deste não desejo de ausência. Gosto de ser vista por ti. Gosto tanto deste pedaço meu que encontrei. e por enqunto só sei mesmo isto...nada mais.
Agora aqui sentada, falo contigo em silêncio, e só queria que me chegassem as palavras para o que sinto. É-que bolas!!! não me chegam as palavras para o que sinto...
Sempre este viver antecipado. Porque raios vejo tudo sempre tão complicado?
ai...que já estou com saudades.