sábado, 16 de julho de 2011







quantas Francescas Woodman? quantas vezes te multiplicas. quantas vezes me sinto como sempre te fotografaste em autoretratos crus - uma suicidada da sociedade - só porque sou ausente.



quando foi Francesca...qual foi o momento que te tornou desintegrada? quando foi que realmente te suicidaste? sei que foi muito antes de te atirares de uma janela aos 22 anos. quando foi Francesca? vejo-me em todas as prisões das tuas fotos, são antes espelhos. daqueles que não reflectem, daqueles que se respiram. Raios...mas será que niguém te ouviu?!!!? tantas fotos, boas! tantos gritos, altos tão altos. e ninguem te ouviu? e porque agora todos falam de ti? os criticos então são fenomenais nas suas brilhantes respostas carregadas de palavras caras, que me cansam. o silêncio que se ouve quando os que se pensam vivos cotemplam as tuas fotos. os que te vêem ficam mudos por séculos no seu interior, porque o confronto é demasiadamente cru. e dão por eles ali despidos quase a tocar a verdade. e eu tenho saudades das fotos que nunca chegaste a fazer, porque nao te deste tempo. mas vejo-as todos os dias. em cada caixinha vazia dos meus cantos, estás lá, em cada sitio escuro, estás lá.



e tudo fica ali, num sítio escuro , fechado em caixinhas vazias. secalhar porque é ali que deve ficar. quando foi que deixei de sentir o tempo? quantas vezes mais terei de acreditar que a vida será sempre pouca para o que quero? e quantas outras me parecerá uma eternidade?



Cansaste-te não foi? cansaste-te de esperar a resposta. entendo. eras crua nas tuas histórias e não mostrasvas medo de as contar bem alto. quando foi então?



sei que em aguma altura pertenci a algo. sei porque por vezes vejo a minha silhueta em tanta coisa: na terra, numa sombra, numa conversa sem palavras, numa tela por pintar. sei que estive lá, que pertenci. quando foi que isso aconteceu? já não vejo o tempo, nem acredito. por enquanto só vejo silhuetas. por vezes parece que ainda nem nasci. por vezes parece que nunca estive, nunca fui. fui apenas importancia relativa. se pudesse ao menos encontrar o momento!



sei que algumas caixinhas não se vão encher só porque eu quero. sei-me capaz de muita coisa, mas não disso. ficarão assim vazias e escuras à espera das respostas.



quando foi Francesca?

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