quinta-feira, 20 de outubro de 2011

é urgente contemplar! é urgente curiosificar!





Já devia saber de que cacos sou feita e as maneiras como me parto. nem metade sei se sou afinal.
Se eu pudesse ler o tempo. se ao menos conseguisse sentir-me pertença. só queria receber a calma do caos com o olhar que não entende mas sossega. saber que ela chega quando não anseio nem mordo os lábios. preciso do saber pela questão. num diálogo feito monólogo ao jeito de Sócrates. sem problematizar, entender o mundo das ideias e acreditar que são apenas conceitos livres e abertos. dúvidas felizes.
precisava de respirar fundo ao som do silêncio, brando, baixinho. um sussuro.
Caótica de desentender. saudades do que nem sei. de quem não está. tenho saudades de falar comigo, de me saber ouvir. saudosismos de um calor que não queria falso.



não consigo escrever numa forma pré-fabricada. não consigo ler os conceitos absolutos. apenas nas entre-linhas vive o interesse.
Estou circular. neste sítio, cá dentro, pareço-me às voltas. se ao menos não sentisse o repetido. sempre esta presença feita de ausência.



o espelho não funciona hoje.



a janela não abre. não me deixo.
Queria um pecado em forma de chave-mestra que me abrisse. para me despir. ser vista nua através dos olhos de uma alma sem nome nem ideais nem julgamentos.
Queria pôr as mãos na terra e moldar-me num barro renascido, seguir numa carroça sem saber para onde vou e chegar lá. mergulhar num mar morno e deixar de sentir o meu peso. voltar ao útero.



Dou-me uma lufada de verdade e uma brisa de alívio. Sinto que toquei uma vez mais o meu limite de sociabilização e preciso respirar um ar só meu. nunca gostei de andar encarneirada e apesar de algumas vezes o ter feito sei que não pertenço a rebanhos. não tenho pachorra para conversa de conveniência. fala-se demasiado e esgotam-se as palavras num insistir em nada dizer. dos rebanhos apenas ouço ecos de ovelhinhas que um dia em vez de erva engoliram dicionários.



preciso-me curiosa novamente! digo para mim o quanto é urgente!!! preciso perguntar as respostas. falar pela pintura. gritar até. despertar. rápido e a sentir o tempo. Todo o tempo é meu também. Sempre e quando me deixe só estar, só ser. Contemplar a dúvida e dela duvidar de tanto acreditar.



Mais que viver é curiosificar.

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