domingo, 16 de outubro de 2011

FoMe


Tenho uma fome pequenina.
Gosto de comer pouco de cada vez.
Levo sempre uma maçã na mala.
Levo sempre um pedaço de Marta na algibeira.
Pedaço aqui e outro ali vou descobrindo o que queria e o que não queria. o bonito e o feio. mas guardo tudo. agora já guardo tudo! nada se deita fora porque nada desaparece; recicla-se, recria-se. refina-se. todos são pedaços que tanto procurei nos sítios perdidos...nas coisas erradas.
Houve um tempo que nem sei onde estava. tempo houve em que nem era. os pedaços espalhados por toda a parte, não se viam em lado nenhum, não havia lugar. não os queria ver. nem queira ser. preferia não saber...era mais fácil.
Tinha fome e tinha sede, mas não sabia do quê... Não havia espaço...não havia tempo.
Hoje vejo pedaços em tantos lugares, em tantas pessoas. Estão lá...no querer saber, no desejo do sonho, no sentir com os sentidos todos. Estão lá, num olhar, numa palavra recebida, numa tela pintada. numa folha em branco. Estão em todo o lugar onde me ouço. Estão em todo o tempo em que sei ser.

Já sei ver de olhos fechados. sei ouvir sem sons. já sei receber o que nada parece. Sei ler sem letras. Aprendi e gosto.
Prefiro saber agora. Escolho saborear.
Pedaços pequeninos, doces e amargos, ruidosos, gritantes e silenciosos. Pedaços que por vezes arranham mas não me tiram o apetite.
E...a minha fome já não é pequenina. Quanto mais me alimento mais fome tenho.
Tenho tanta fome de pedaços de Marta!

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