sábado, 19 de novembro de 2011

estranhamente anacrónica

Faz-se tarde. Tenho sempre esta sensação de estar no tempo errado. De querer dormir quando devo estar desperta. de querer acordar quando devo dormir. A pintura parece acontecer-me quando me esqueço da hora certa. Precisava de acertar o meu relógio entre o sentir que toda a vida é pouca para o que quero viver e o sentir que é uma eternidade sem sentido. um relógio sem minutos, sem horas ou segundos. sem tempo. Queria um relógio feito do momento. Só.

Consigo ver-me num tempo anterior. só me consigo ler, devagar, no passado. é o que acredito conhecer. é o que estou habituada a sentir. não deixa contudo de ser uma mentira. Afinal, já não está. Lá, nesse tempo, já não sou. No agora vejo-me assim como uma névoa de possibilidades, escolhas. Estou por concretizar! Sempre precisei de uma certa distancia temporal que me permita decifrar a minha forma. mas nunca é a mesma e não a consigo agarrar. Por mais criativa que seja não consigo criar a forma definitiva.

Sempre precisei de morrer para renascer. E assim nada, nunca, é definitivo.

O agora que sou é algo tão imatérico que não me consigo tocar. Vou-me vendo nos olhos dos que habitam os meus mundos. Tento acreditar no que acreditam que sou para dar-me um pouco mais de corpo. Um pouquinho de cada vez. Também neles vou observando os moldes das formas que gostaría de ter. Vou-me dando. Vou-me mostrando. Duvido das leituras. Raios! se duvido da própria dúvida! Por vezes desconfio moldar-me ao gosto dos outros. para os seduzir. para que fiquem sempre nos meus cantos. para que permaneçam no tempo certo. Preciso dos seus tempos para existir, dou-me conta afinal.

Sinto-me tão estranhamente anacrónica!

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