sábado, 31 de dezembro de 2011

tudo está em branco





última noite do ano. Limpa, calma.
silêncio...


Olho um rectângulo de céu feito por cubos de cimento. Estou bem aqui. Este é o momento certo, no tempo exacto onde devia estar. Neste aqui não me desejo em lado algum que não este. tudo está no sítio certo. Até eu! parece mentira...
o cheiro das tintas...as mão frias. a matéria está em mudança.



Escrevo embalada sem pensar muito. hoje não é dia de pensar. hoje é dia de deixar-me só sentir.



Estar.



Falo assim, caladinha, com todos os que por mim passaram. Abraço todos os que me fizeram história. Vejo-me criança a penetrar um mundo cheio de tudo: um ribeiro gelado de águas limpas, cobertas de libelinhas, onde me banho com meu primo e um cão: o Farrusco. Vejo o feno reunido com tanto esforço por meus avós ao qual deitámos fogo. Vejos os gatinhos e coelhos que queria ensinar a nadar. Os pintainhos, os pombos e as mil andorinhas que teimavam em cair na varanda e que tentava, infrutuitamente, salvar. Criança, não via não poder ensinar o mundo, nem salvar. Um dia pensei: quem sabe me poderei ensinar a mim...e..talvez salvar! quem sabe o mundo me ajude...



assim começou tudo. as perguntas. as escolhas. a insatisfação. curiosa...sempre muito curiosa. quis ter olhos, verdadeiros. quis sentir os cheiros. ver o poder das palavras. sentir-me pertença.



Perdi-me tantas vezes. Perdi-me, porque me procurava.


Não importa o que grito se não me ouço. de nada vale querer ser para ser vista. a importancia que me dou não dura. tudo é relativo ao meu observatório. tenho assim que me misturar com a matéria que muda, dissolver-me nos caminhos em que me perco. encontrar-me nos trilhos mais fabulescos. encher-me de surpresa. e nunca, mas nunca, deixar de viver pelo medo do que possa acontecer. importante mesmo é o movimento. sem ritmos impostos, sem compasso de espera.



Fui agora ao quintal cortar um folha da Verduska. (Tudo está tão calmo! o que fora ebulição é agora silêncio.) Vou e fossilizá-la. vou tentar lembrar-me de lhe dizer bom dia, bom noite, bom ano, boa vida. e vou deixar de tentar, porque essa planta morreu para renascer, é uma resistente e por isso merece todo o meu respeito, admiração e carinho. Não é preciso muito para me colocar no lugar dela. Bastou um pouco de terra e um pouco de Sol para que se agarrasse à vida que um dia quase a perdeu.



Pinto-a de branco: pureza, possibilidade. e por um instante deixo de questionar. está tudo branco



Regresso ao quintal (Tudo está tão ruidoso agora! o que fora silêncio é agora ebulição.) e...derrepente...assim num segundo mudou o ano. Como tudo muda num instante! fiquei ali deitada a ouvir todo aquele movimento de mudança. vi pássaros assustados num céu de mil cores. as pessoas gritavam e batiam nas panelas. e..sorri. lembrei-me de todos os que amo e pensei no que desejariam? quais seriam os seus sonhos? e desejei-lhes os seus desejos. e para mim desejei....desejei não desejar nada...nada que não esteja, nada que não seja.



desejei desejar-me sempre no momento.






1 comentário:

  1. bonito. envolvente. inquietante. prometedor. alimentador de fé na liberdade e no valor da necessidade do esforço constante e voluntário, pela manutenção do desprendimento e pela apreciação da vida duma forma tranquila e fluidica. Quem me dera por em prática essa sabedoria. Partir sem questionar...partir para me encontrar, partir para dentro de mim e trazer para fora a alma pura que sinto ser minha,já que maior parte das vezes só me reencontro nos abraços de quem amo!
    LPF

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