quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

vestido sem corpo


"Chiharu Shiota"

Por norma não sou sensível ao que se passa do outro lado do Mundo. está muito longe! Já muito tenho para sentir ou não sentir no que me está mais próximo fisicamente. Mas a arte tem destas coisas. do Japão vem esta imagem que não sendo minha sou eu também.
Um vestido sem corpo. ali. suspenso. frente à janela que anuncia a vida que por ali passa. e os fios, esses, não mais são que as memórias. são as sinapses que aconteceram pelo caminho. umas entrelaçadas. outras quebradas pelo que foi e já não é. pelas verdades que já não são. São o breve acreditar para logo deixar de ver. São os fios que denunciam o frágil que são todos os caminhos. e o curtas que podem ser as verdades.
Um vestido que aguarda um corpo. o seu. e como eu espero o meu!não este que passeio pelas ruas. esse é o que sempre tive, com todas as suas mudanças, cicatrizes, marcas, e alguns vincos também. mas é e sempre será o mesmo corpo que vai envelhecendo. o corpo que aguardo não é o que se vê. é aquele que sei ter, mas ainda o sinto enterrado também ele à espera de ver a luz. e receber por fim: paz.
sou ainda um vestido por vestir. porque de todas as vezes que me senti tão vestida por verdades em que quis acreditar, era quando mais nua estava.
Tenho ainda tanta pele por sarar.

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