um passo atrás

hoje estou lá atrás
afundei-me num sofá feito de uma sombra que tão bem conheço
não tenho sede de nada hoje
não me apetece a humanidade...nem nada...nem ser
estou farta do que não sei de mim...e do que sei também...principalmente do que sei de mim
cansam-me as palavras certas...cansa-me o politicamente correcto
cansam-me as pessoas felizes...cansam-me os hipócritas como eu sou
eu canso-me
irrita-me este mundo, esta gente doente como eu sou
irrita-me tanta doença...tanto podre da alma
só me apetece morder, rasgar, gritar...viver para trás afinal...
estou tão cansada de procurar
que desassossego hoje...estou paralisada

hoje não me apeteço

há dias asim...em que se anda para trás

regressa!

há um regresso que já me sabe bem

hoje no regresso a srª Lua ía-me espreitando pela vidraça do carro...tão cheia...magnífica! e ficámos assim um tempo, nesta conversa dum outro planeta.

Meti a K7 a tocar. Já se ouve com ruídos que não lhe pertencem! Também...já tem uns bons anos. Devo ser das poucas criaturas que ainda ouve cassetes! Mas esta é mágica...insubstituível...amo-a em cada som, cada ruído. Foi a minha companheira de 1001 noites.Permitia-me, através dela, sair daquela realidade à qual não queria pertencer...mas sentia que precisava. Quando a ouvi pela primeira vez pareciam-me sereias : "Cocteau Twins" - disseste-me.

Soube-o então, aquilo era também meu! Um pedaço daquilo que sou e procuro ser... Preciso urgentemente de saber quem sou...do que gosto.

Ouvir aquela K7 e a minha conversa com a srª Lua, trouxe-me no regresso aquela parte de mim que quero manter.

Tenho saudades tuas minha amiga grande...regressa depressa dessa ausência.

Adoro-te

despida

já gosto da minha companhia
é tanto e tão diferente o que sinto num só dia
é só um dia
nunca um dia é um dia qualquer...cada dia é seu...pertenço-lhe
só me dispo para mim...descubro-me assim
através do lápiz e dos contornos, reencontro-me no que sempre fora meu
é meu...e quero-o de volta
voltei a desenhar...perdi o medo
atrevi-me no pouco que sei verdadeiro para mim
é tanto...é quase tudo
aqui encontro-me, vejo-me também
olhar para dentro, que a mão põe para fora...descubro tanto assim...descubro-me
háverá algo mais mágico?¿

sinto uma angustia estranha...nova...
parce que não domino...não me domino...
mas....ainda assim gosto da minha companhia...
um corpo preso a uma mente distorcida

afinal foi só um dia...
um bom dia
um bom desenho

o amanhã

O amanhã é hoje também
gosto de todos os hojes contruídos neste agora
amanhã vou acordar
amanhã quero viver...quero tanto

amanhã vou sorrir...sentir...cheirar...e olhar

amanhã quero-me tanto e tão pouco

amanhã

amanhã vou pintar...ou desenhar talvez...

amanhã tenho-me como ninguém

a porta

abri a porta e entrei....abri portas...tantas e tão poucas
muitas faltam abrir
esta porta esperava-me há muito tempo
tenho a chave desta fechadura...é minha: ganhei-a!
sem trocas impostas....
sem trocas

no meio do caminho, passo por aquele corredor onde estás tu e os teus olhos
tocáste-me no braço...os teus dedos escorregaram
toquei-te também
afirmaste-te passado uns dias...também o sentis-te não foi?
'tinhas a mão tão fria' - disseste-me numa subtileza que é muito tua...

Meu Deus...porque remexes comigo???
porque tenho que ser eu a pôr-te a mão na consciência?

por fim, consegui....passei o corredor...passei por ti...vi-te já de costas e...
fechei a porta
ficás-te para trás?¿¿¿
por favor fica lá atrás
não avances mais

adeus

DESENHEI!!!!!

DESENHEI ... DESENHEI... DESENHEI...

tinha a mão firme....como não me lembro de a ter tido nunca...
os traços foram fluindo...
o olhar concentrou-se...e a mão obedeceu...
sem esforço...
surgiu simplesmente....

pequena ....grande grande conquista...
o que é meu ...a mim há-de vir...
isto é meu...sou eu também...

estou feliz

PÉS

sempre gostei muito dos meus pés....são maneirinhos...
levam-me a todo o lado
hoje levaram-me a um jardim
descalcei-os
caminhei sobre eles na relva...estava fresquinha
passei por baixo de uma âncora
ao lado dum mosterio centenário
vi 1000 famílias
e...tive vontade de as desenhar...
o meu companheiro corria eufórico de bola encontrada na boca
ele adora estes passeios...os meus pés também

no regresso a rádio tocou para mim...
cantava-se :
'VIVER COMO POR MAGIA, A VIDA NUM SÓ DIA'

a chuva sabe tão bem no Verão...é como o Sol no Inverno
porque gosto tanto do desenquadrado?
gosto do desengonçado
gosto do desapropriado
gosto do que não posso e de quem não devo
...já devia saber isso...
até do calor que sei falso eu gosto
e tenho saudades
...isto assusta-me...

onde estou?

onde estou no meio deste nada?
procuro-me aqui e ali..
procuro a parte de mim que sei perdida
sei que não posso ir por atalhos...já os conheços todos....vão dar a becos sem saída
e o que não conheço dá-me medo
sei que estou algures...sei que sim
já o disse...já o gritei tantas vezes....só quero ser...nem mais nem muito
não me posso dar de mão beijada....assim também não me queria....
...isso sabe-me a pouco
nesse dar tem que haver esforço

vejo-me em desenhos que parecem tão antigos....e tão próximos ao mesmo tempo
retratos retorcidos disto que tambem sou eu

hei-de olhar-me no espelho e ver...
olhar...
e gostar do que vejo

chuva

acordar é bom...sabe bem...
é bom esta vontade de acordar....sentimento perdido e restaurado .... é meu

abri as cortinas...senti o cheiro da terra molhada...sublime...fechei os olhos e inspirei um pouco mais...e mais ainda
tinha que sair destas paredes e sentir as gotas da chuva que caíam....
saí
e elas cairam-me na cara...
agora fecho muito os olhos, como que para aumentar os demais sentidos
sim....agora tenho-os todos ... agora quero-os todos

mesmo com toda esta denuncia que faço de mim para mim, ainda não consigo deixar que os demais me desagradem...
não gosto de seres arrogantes
gosto da humildade
gosto da verdade
não devo permitir-me a sofrer pelos actos dos outros
só o que levo dentro posso mudar...só o o meu interior deve mexer-se...
o resto que se lixe!

quero voltar a pintar

o mar . . . ..

Dei um mergulho no mar...

por fim um dia assim

a calma e momento fazem agora parte desta alma inquieta
tanta angustia , tanto estar onde não quero nem posso...mas pertenço...preciso
custa-me tanto pertencer ali...àquele balcão...sempre as mesmas pessoas....falam alto, gritam, bebem-se, bebem tudo...os cheiros...os ruídos...
fico nervosa...não gosto....faz-me mal...

já ouve tempos em que tudo isso me enaltecia a criatividade
sim, houve tempos em que as minhas odes ìam para esse estar

agora...agora a minha ode é à vida....esta vida que tenho...que gosto....que procuro e sei que vou encontrar...ela está lá para mim...

ando ainda em busca de...ainda processo toda esta informação...
mas hoje parei...a pausa necessária....
e foi tão bom....senti tanto...senti tudo...

de manhã vi-te passar....sabes assustas-me...e fascínas-me...mas sei que és apenas um bálsamo errante que surgiu no meu caminho, para me desviar do que é realmente importante...
e desvias ainda...em muitos momentos...
mas vai passar...não quero mais bálsamos para não sentir....
pois não

quero-me a mim....quero todos aqueles que me dão vida...quero-vos tanto...

m a d o t i e

és belo
os teus olhos falam...dizem tanto...
contam-me como sabes que eu sei
sentes como eu...eu sei...sei que sabes...
sim...estou viva
obrigado
na sombra de uma espectativa impossível, renasci
é uma espectativa
é impossivel
mas senti....sinto...
sim...estou viva
obrigado

sei de que serenidade falas

hoje recolhi-me
voltei a vós meus moinhos amados...ahhhhh...saudades...
sou vossa....vocês são também meus...sempre o foram....sempre serei
já me viram de tantas maneiras...já ouviram os meus gritos de silêncio vezes sem fim...

o calor era tanto
esperei a ida do Sol
vi um pôr do Sol como só o Alentejo oferece
as cores...ahhh Deus meu as cores desse céu...
e lá no alto dos moinhos o vento soprava...era quente
as pedras no chão onde me deitei estavam quentes...um morno bom

esperei as estrelas
timidamente foram surgindo
e as cores...
vi o vento
cheirei o Sol
toquei as estrelas
e o calor deu tréguas

senti-me tão bem....
pertenço ali

tu estives-te sempre comigo
eu sei
tu sabes que eu sei

estive contigo também
eu sei

até breve